Cooperativismo financeiro, conheça esse negócio disruptivo

Cooperativismo financeiro, conheça esse negócio disruptivo

Uma silenciosa inovação de ruptura, menos tecnológica e mais social, vem acontecendo pelas cooperativas de crédito, que ganham cada vez mais terreno no país.


O município de Ceres, localizado no estado de Goiás, tem uma intensa atividade agrícola. É lá que vive o biomédico João Barroso Diniz, que também trabalha como pecuarista. Nos dias úteis, ele dificilmente para em casa, quando não está no laboratório, está no campo ou no banco. Diniz é um dos 8,2 mil sócios de uma cooperativa financeira, um tipo de negócio que anda a passos largos Brasil afora.


Dizem que timing é tudo para uma inovação e talvez seja mesmo. O cooperativismo de consumo, nasceu em 1844, quando 28 operários somaram suas economias e abriram uma loja de itens básicos na Inglaterra, a Sociedade Equitativa dos Pioneiros de Rochdale. Mas, só agora, na era da economia compartilhada e do propósito, ele está ganhando o status de uma promissora disrupção.


Comum em países da Europa e da América do Norte, o modelo cooperativo tem ganhado escala no Brasil, com crescimento entre 15% e 20% ao ano. Agregadas, elas formariam hoje o sexto maior banco de varejo do País, com R$ 177 bilhões de ativos, de acordo com a consultoria alemã Roland Berger. Em comum, todas carregam uma forte atuação regional. Ainda mais em localidades como Ceres, que até não muito tempo atrás era atendida exclusivamente pelos hoje quase inexistentes bancos estaduais.


Com a concentração do mercado, os grandes bancos preferiram focar as cidades grandes e médias. Quando o interior ficou desassistido, abriu-se uma oportunidade para as cooperativas, já ambientadas em nichos como agricultura e saúde. “Elas compõem a realidade da região em que estão inseridas, promovendo uma melhor inclusão financeira e desenvolvendo soluções voltadas ao crescimento da comunidade”, explica Harold Espínola, chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias (DESUC) do Banco Central (BC).


Estima-se que quase 7 mil cooperativas operem em 13 diferentes setores da economia no Brasil, a maioria delas nas regiões Sul e Sudeste. Ao todo, elas empregam cerca de 350 mil pessoas e contam com 13 milhões de cooperados. Desse total, 9 milhões estão vinculados ao segmento financeiro.


Os ganhos costumam acompanhar a capilaridade do setor. Só no Paraná, estado com forte vocação cooperativista, o ano de 2016 rendeu ativos de R$ 32,3 bilhões no segmento financeiro. O valor representa um crescimento de 23,5% ante os R$ 26,2 bilhões do ano anterior. Fala-se em curva de crescimento exponencial. No Brasil como um todo, houve expansão de 18,1% nos ativos totais – chegando à monta de R$ 154,1 bilhões. Desse volume, 71% dos recursos são oriundos de cooperativas de crédito rural, 24% de unidades crédito mútuo e 5% de instituições de livre admissão. As informações são do Panorama do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, relatório divulgado pelo BC


Treinamento virou uma palavra de ordem no segmento. Dos gestores aos representantes eleitos pelos associados, todos participam periodicamente de capacitações profissionais. Observa-se isso na inauguração da Escoop, em Porto Alegre, faculdade que oferece graduação e MBA na área inspirada na Alemanha, onde existem nove escolas de gestão cooperativista. Ao fim da capacitação, os alunos participam de um intercâmbio na Alemanha, inclusive. “Criamos uma faculdade moderna não só para instruir os cooperados e gestores, mas para fazer ciência numa área de crescimento irreversível”, observa o diretor Derli Schmidt.

 

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